Deu no caderno "Amanhã",
do GLOBO, especializado em sustentabilidade:
"Ciclista
amador israelense produz bicicleta biodegradável e à prova
d´água. Empresas e governos de diferentes países estão de olho no
invento", que pode ter custo de apenas US$ 20 para o consumidor.
Ela não consome
combustível e não polui o meio ambiente. É leve, barata, biodegradável, à prova
d’água e, segundo seu criador, tem o potencial de revolucionar o transporte
urbano em grandes cidades ou em países que lutam contra a pobreza. Trata-se de
uma bicicleta feita quase totalmente de papelão. A invenção é do israelense
Izhar Gafni, de 50 anos, um especialista em linhas de produção e ciclista
amador. A bike, criada em parceria com outros dois sócios, já chamou a atenção
de grandes empresas, governos e curiosos de todo o mundo. Gafni só não conta
seu principal segredo: a fórmula secreta usada para tratar o papelão, que é
feita com materiais orgânicos.
— Sempre me
interessei pelo uso de materiais não convencionais para construir objetos do
dia a dia
— conta Gafni,
filho de pai curitibano e mãe paulista.
A família
migrou para Israel há mais de cinco décadas e Gafni acabou nascendo no Kibutz
Bror Hail — conhecido por ter sido fundado por imigrantes brasileiros, no Sul
do país. Foi lá que ele viveu a vida toda, formou-se e acabou conhecendo seus
sócios, o empresário Nimrod Elmish e o fotógrafo Guiora Kariv, ambos também
filhos de brasileiros.
Dono de
diferentes marcas de bicicleta, Gafni sempre sonhou em construir uma de
papelão, o que só foi possível há dois anos, depois de inúmeras tentativas
frustradas e vários protótipos irem parar no lixo. Em seis meses, quatro linhas
de “bicicletas urbanas” estarão prontas para fabricação e venda em Israel, a um
custo de produção de US$ 9. O veículo poderá ser vendido ao consumidor final
por US$ 20.
Entre os
modelos, haverá bicicletas para homens e mulheres, para jovens, com rodas mais
amplas, e também com motores elétricos — recarregáveis em casa — para viagens
um pouco mais longas. No momento, Gafni ainda inclui algumas partes de metal
nos protótipos, mas o inventor pretende produzir modelos com mais de 90% de
papelão. Rodas, pedais e até mesmo os cabos dos freios serão construídos com
materiais recicláveis, como plástico de garrafas PET e até pneus de automóveis
usados.
Teste de material
A bicicleta de
papelão passou, segundo Gafni, por todos os testes feitos com o material, após
imersão em água por período de sete meses. Ele garante: o material só se desfaz
se for exposto a um calor de dois mil graus. É que o papelão usado como matéria
prima é feito de madeira transformada em polpa para a fabricação de papel,
insumo usado nas indústrias de caixas e caixotes no lugar de metal de ferro. Ao
final do processo, o veículo “verde” ainda recebe uma camada de laca para ficar
mais brilhante.
A bicicleta
pesa nove quilos, seis a menos do que a média dos modelos de metal vendidos
hoje. E poderia carregar ciclistas com até 200 quilos de peso. As rodas são
feitas com borracha reciclada de carros. E as correias, de cintos de segurança.
Tudo para que seja o mais amigável possível para o meio ambiente.
Gafni detém
cinco patentes e uma delas protege o conceito de veículos de papelão com pelo
menos uma roda. Apesar das patentes, o local de trabalho de Gafni não lembra em
nada uma fábrica tradicional de bicicletas. Muito pelo contrário. A impressão é
de uma oficina mecânica abandonada com peças de veículos penduradas na parede,
restos de papelão pelo chão, metal e outros materiais espalhados pelo
local.
A ideia de
construir uma bicicleta de papelão começou de uma forma prosaica: Gafni
construiu uma bicicleta de papelão para a filha. O presente acabou virando o
principal modo de transporte da menina. O sucesso acendeu a luz “verde” para o
inventor:
— Quando comecei,
as pessoas riam de mim. Mas agora estou recebendo dezenas de e-mails por dia
perguntando onde podem comprar a bicicleta.
O prefeito de
Bogotá já entrou em contato com Gafni. A cidade vem, há 12 anos, reescrevendo
sua história recente, graças ao movimento ‘Bogotá Como Vamos’, que atingiu
resultados tão surpreendentes — especialmente nas áreas de arrecadação de
impostos e redução de homicídios — que cidades brasileiras, como São Paulo e
Rio de Janeiro, lançaram, em 2007, movimentos semelhantes. Um político do Rio
já teria, inclusive, entrado em contato com o inventor, mas o nome, diz ele, é
segredo de estado:
— Mas não posso
dizer o nome dele. Assim como no Brasil, em muitos outros países há interesse
por bicicletas como essas, de papelão, que podem ser produzidas por mão de obra
local. Além de não necessitar de manutenção ou ajustes.
Outros
interessados são grandes empresas, inclusive do setor aéreo, que estão
estudando a possibilidade de substituir os assentos atuais por outros, feitos
de papelão. A troca reduziria o peso das aeronaves e, consequentemente, o
consumo de combustível. Animado com a repercussão do seu invento, Gafni costuma
comentar que “o céu é o limite” para esse tipo de tecnologia.
Disponible en: http://oglobo.globo.com/blogs/debike/posts/2012/11/21/a-bicicleta-de-papelao-do-inventor-israelense-475851.asp